Na década de 80 éramos 5 090.700. Hoje somos, na cidade 6.186.710 e em toda região metropolitana, somamos 11.812.482 habitantes, segundo dados do IBGE de 2009.
Antes tínhamos dúvidas se chegaríamos ao século 21.
Hoje a questão é outra.
Afinal, de que maneira podemos conter os reflexos do crescimento demográfico no meio ambiente?
O planeta dá indícios de esgotamento e o vilão número um tem ligação direta com a humanidade. O que fazer com o lixo produzido?
Estima-se que cada pessoa produza diariamente 1 Kg de lixo. É só fazer as contas.
Juntos, somos responsáveis por mais de 11 mil toneladas diárias de lixo que sem o devido manejo vão para os aterros sanitários.
Tudo o que jogamos fora na cidade maravilhosa, seja doméstico, industrial, hospitalar, agrícola, radioativo ou tecnológico vai direto para Gramacho que a despeito dos cálculos da quantidade de lixo per capta, estima-se receber 8.800 toneladas diariamente.
Isso por que essa é a alternativa 15 vezes mais viável do que reciclar.
Projetado na década de 70, o Aterro de Gramacho é o destino dos resíduos sólidos das cidades do Rio de Janeiro, Nilópolis, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti.
Já naquela época, especialistas indicavam que o local, às margens da Baía de Guanabara e dos rios Sarapuí e Iguaçu, não era indicado, mas contrariando todas as previsões e a portaria do CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, que proíbe o lançamento de resíduos em cursos d’água, em setembro de 78, o aterro começou efetivamente sua função.
Em dez anos de existência, recebia 100 mil toneladas de lixo e já em 87 foi detectada a contaminação do ambiente por metais pesados como cobre, chumbo, cádmio, zinco e cromo.
Assim, rompeu as barreiras do século 21, recebendo em seus 285 hectares, significantes 9 mil toneladas de lixo dispostos em montanhas de 36 metros de altura, o equivalente a um prédio de 12 andares.
Durante todo esse tempo, o Aterro de Gramacho tirou o sono de muita gente e várias foram as tentativas de prolongar sua vida útil: melhoria no sistema de drenagem de águas pluviais, drenagem e coleta de chorume e cobertura dos resíduos sólidos com argila.
Nada foi o bastante.
Somente em junho do ano passado a vontade saiu do papel com a inauguração da usina de Biogás do Aterrro Metropolitano de Jardim Gramacho, que, calcula-se, produzirá cerca de 160 milhões de metros cúbicos de biogás por ano, através do chorume que nada mais é que o resultado residual da lavagem do lixo pelas águas das chuvas.
O projeto, aprovado pela ONU, renderá 10 milhões em crédito de carbono em 15 anos de atividade, tempo de durabilidade previsto para a reserva de gás, além de assegurar a manutenção do aterro por mais 15 anos após o fim das operações pela empresa concessionária que atende aos requisitos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto pelo protocolo de Kioto.
Todo esse esforço foi para garantir que o mesmo chorume que agora se tornou fonte de energia não atingisse a baía de Guanabara, causando um desastre ambiental sem precedentes.
Você deve estar se perguntando: e por que mesmo assim, não vemos a baía mais limpa?
Talvez por que a iniciativa não devesse partir somente dos governos, seja no âmbito federal, estadual, ou municipal, no que concerne aos 16 municípios em seu entorno.
Pouca gente sabe ou se dá conta de que, se no início, a principal vilã dessa história foi a atividade industrial, hoje a culpa é muito mais nossa, que nos acostumamos a esperar que as “autoridades competentes” tomem a iniciativa.
Pense nos 5 quilos de lixo que produzimos diariamente, na quantidade de detritos que vemos nas ruas e nos rios que cortam nossos municípios despejando 200 mil litros por segundo de água ora doce, com todo tipo de sujeira imagináveis. São pedaços de madeira, tubos de imagem de TV, geladeiras velhas, sofás, carcaças de carros e até cadáveres.
Barcos de coletas e ecobarreiras, isolamentos feitos com garrafas PET, são insuficientes para conter o grande volume de lixo que flutua na Baía: cerca de 80 toneladas diárias em dias mais estáveis, chegando até 200 em dias de fortes chuvas e maré.
E como se não bastasse, tem ainda o que os olhos não vêem... 20 Km² de sua área, ou seja, 380 km² estão completamente assoreados, a ponto de não existir mais vida, somente uma superfície revestida com plástico e outros resíduos que um dia estiveram em nossa casa, em nossas mãos e irresponsavelmente lançamos a esmo no ambiente.
Uma recente pesquisa realizada pela agência Reuters e pela empresa Ipsos, ouviu 24 mil pessoas em 23 países, incluindo o Brasil, antes, durante e depois da Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Copenhague, a respeito do índice de satisfação da população com seus governantes e líderes empresariais para com as medidas corretas para evitar a mudança climática global. Em cada 100 entrevistados brasileiros, 43 declararam-se insatisfeitos.
Resta a pergunta: quando é que vamos parar de cobrar do governo iniciativas que dependem de nós?
Sempre me pergunto por que as pessoas não jogam lixo no chão de suas casas e o fazem nas ruas?
Partindo desse ponto de vista, questões afins permeiam minha mente: Como podemos ensinar nossos filhos a serem cidadãos conscientes sem dar o exemplo?
E chegamos à máxima: que filhos estamos deixando para o mundo e ainda, que mundo estamos deixando para nossos filhos?
Fonte: Cláudia Cataldi, Jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário